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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O choro é livre, mas incomoda.



No geral, o jogador de Magic é chato. Temos uma forte e infeliz tendência a nos apoiarmos na parte do jogo a qual não controlamos, a tal da Sorte. Não sei se por decorrência dos valores altos investidos nos decks, ou se simplesmente por não querermos parecer menores/piores perante os outros jogadores/amigos, mas o choro se faz presente em todo campeonato pequeno de Magic e infelizmente, na maioria absoluta dos jogadores.

O que me motivou a escrever sobre tal tema foram meus recentes infelizes resultados, os quais não tenho dificuldades em compartilhar. O último evento que joguei foi quinta-feira passada em A Toca revistaria, o famoso TNM, no qual fiz o incrível resultado de 1-3, jogando com Monoblue Devotion, o deck que ao meu ver, divide confortavelmente o topo dos tier 1, juntamente com o Monoblack Devotion.

Posso relatar que entrando na quarta rodada do campeonato 1-2, parei para respirar por um segundo e percebi que eu estava me comportando da forma como mais abomino que um player se comporte durante um torneio de Magic. EU, que tanto abomino o Mimimi, estava envolto no mesmo, reclamando audivelmente de cada draw dado no Round 3, reclamando de cada carta jogada pelo meu adversário, ou seja, sendo o tipo de player desagradável que tanto detesto.

Iniciei a quarta rodada com isso em mente, enfrentando o colega de time Guilherme Bonow (o qual ainda deve um report para este blog!). Percebi ali que, sem reclamações, o jogo fluía bem melhor, mesmo eu o deixando com 2 pontos de vida no primeiro jogo e depois tomando uma sequência de algo como 7 num turno e + 13 de dano no outro.

 Ai passa alguém e comenta Como o Bonow ganhou aquele jogo?.

E isso é bem simples, ele lidou com as minhas threats, desativou minha Thassa.. fez o que o RW Devotion faz de melhor contra o Monoblue, o qual não consegue lidar com a Devotion dele, o que gera Fanatics bem grandinhos. NADA MAIS JUSTO! E ali, perdendo a quarta rodada e indo pra o recorde horroroso de 1-3, consegui me acalmar e ver justiça num jogo de cartas, o qual tem uma comunidade que reclama em excesso, o tempo todo, mas que nunca, NUNCA admite quando erra.


Sorte e Probabilidade


Isso já foi citado antes, por outros players/escritores, em outros países, em diferentes momentos da história do Magic.. Mas a verdade, a qual parece que muita gente desconhece, é de que o jogo é muito mais baseado em probabilidade do que sorte.

 Por exemplo, a chance de você embaralhar direito o seu deck e pegar uma mão de sete com SETE terrenos, em um deck, por exemplo, com 22 terrenos, é de algo como 2%.

Sim, 2% é um valor ridiculamente baixo e você é azarado, certo? Não, 2% diz, basicamente, que a cada 100 mãos que você abrir com este deck, provável que 2 delas serão mãos com 7 terrenos. Podemos reduzir este número para um a cada 50. Agora pare pra pensar em quantas vezes você embaralhou e abriu mãos de sete com este deck, somando treinos, com campeonatos.. o número 50 parece pequeno, não? Se não parece, deveria. :D

Agora como citado em outro artigo que li uma vez, mas que não me recordo onde encontrá-lo, questões como o raio do topo, os 3 de dano que faltam para o seu oponente. Na hora que você cria uma linha de jogo onde você perde para uma carta específica do deck do oponente, você já está perdendo, justamente pq você está apoiando suas chances de vitória em uma variável que não é de seu controle. Não me entendam mal, não estou dizendo que não vão surgir situações de jogo em que você vai jogar pensando no “se ele não topdeckar X, eu mato ele na volta com Y”, isso acontece e bastante. Mas, além de existir a chance de ele comprar o “Raio”, o que ninguém leva em conta é no caminho que o oponente percorreu pra ti botar em situação na qual uma carta específica finalize o jogo.

Temos uma forte tendência a focar no final do jogo, o último turno, quando na verdade o jogo se define bem antes. Você perdeu porque só comprou terrenos? Me conte sobre aqueles 2 Burning Weird que você preferiu jogar pro fundo do deck com o scry da Thassa? (/notetoself)

O meu ponto com o artigo, é reforçar aquilo que eu converso com o meu time e que eu mesmo tenho desviado um pouco, mas pretendo voltar ao rumo. Não importa como foi a derrota, sempre tem algo que você provavelmente fez errado e isso se verifica em vários possíveis segmentos, os quais você sempre tem que estar disposto a melhorar:

 - Construção do deck! 

 60 cartas, certo!? Não, já começou errado. O seu deck tem 75 cartas, o seu Sideboard é tão importante quanto o seu Main, ou até mais, considerando a forte tendência de você jogar muito mais games com o Sideboard do que sem o mesmo, ao longo de um campeonato. Por muito tempo eu mesmo tive essa mania, fechava 12 cartas iguais as da lista que eu estava me baseando e “ah, deixa eu achar 3 aqui que parecem que vão ser boas e fechou”. Errado, bem errado. O mesmo vale pra construção do Main, algumas ideias são boas e valem à pena, mas na grande maioria das vezes a ideia do Pro, que tem tempo e experiência pra esculpir uma lista, são melhores do que a sua ideia, é melhor aceitar isso.

 - Sideboard!

 “Mas tu já falou sobre sideboard, wtf

 Eu falei sobre a importância da construção correta do sideboard, não falei nada sobre o ato de sidebordear. Normalmente se erra nessa parte, sei que muitos que estão lendo vão se identificar. Digamos que você está de monored, acabou de enfrentar um deck de controle. No sideboard você tem 4 Burning Earths 2 Chandra, Pyromaster e outras 2 cartas de custo 4 que são boas contra o referido deck de controle. Se você pega essas 10 cartas, coloca no deck e parte em busca de quais 10 deve tirar, provável que você já esta errando. Ai você faz o sidezinho brasileiro, clássico. “Vou tirar 1 de cada desses bichos aqui, tirar esses 4 raio, já que ele não tem bicho pra eu matar né” e ai descamba tudo de vez. Existem adeptos do sideboard que foca primeiramente no side-out e depois no side-in, como existem adeptos do inverso. Eu prefiro muito mais a ideia de tirar as cartas sub-ótimas no match específico primeiro, para depois incluir as cartas do sideboard, me dá uma maior segurança na estrutura final do deck sidebordeado.

 Por exemplo, de Monoblue, digamos que eu entre com:

 -1 Bidente (custo 4)
 -1 Jaces AOT (custo 4) e
 -2 Jace, Memory Adept (custo 5) contra Esper.

Se eu simplesmente tiro os Cloudfin Raptors (custo 1), que são ruins no match, e incluo 4 cartas de custo 4 ou mais.. eu acabo com um total de 12 cartas de custo 4 ou mais, o que vai fazer com que eu mulligue infinitas mãos de “land/land/bidente/jace/coruja/master of waves/jace”. Agora pense nas mesmas alterações, mas tirando os 4 Master of Waves para incluir os drop 4 do sideboard e ai tirando os Raptors pelos Gainsay, por exemplo. Acaba fazendo muito mais sentido, de forma que não pegas a estrutura de um deck e simplesmente a quebra no meio.

Uma coisa que pode ajudar nessas horas, pelo menos eu tento imaginar assim, é você visualizar o seu deck como se ele estivesse no deck edit do Magic Online, dividido pelo custo, como você pode ver no exemplo abaixo. Se você consegue imaginar como fica sua curva depois das alterações, fica mais fácil evitar cair em algumas ciladas, isso é importantíssimo até mesmo no limited, onde você normalmente sideia entre 1 e 3 cartas, mas o impacto da mudança em curva em baralhos de 40 cartas é muito maior.


Exemplo de deck no MOL

Enfim, Sideboard merece um artigo só seu que talvez eu o faça no futuro, mas para fins de entendimento do artigo que você esta lendo, lembre-se que sidebordear errado é um dos motivos pelo qual você perde partidas que não deveria perder, ou que acabam parecendo que você perdeu por sorte do oponente.

 - Mulligan! 

Outro fator do jogo que pesa muito mais do que qualquer fator sorte, é o saber ou não mulligar corretamente. Os artigos que falam sobre Mulligan normalmente tendem pra superfície mais extrema do assunto, abordando situações de mãos com 1 land e a chance de você chegar na segunda land ou não. Esse tipo de Mulligan é importante e você vai se deparar com esta situação inúmeras vezes, mas o que às vezes as pessoas deixam de lado são situações onde o Mulligan não é tão simples. Exemplos:

 Mão 1: 4 Swamps, 1 Underworld Connections, 2 Mercantes.
(Você está no play com o seu Monoblack, não sabe o deck do seu oponente.)

 Mão 2: 6 lands e 1 Sphinx’s Revelation. Das 6 lands, 2 são lands Scry.
(Você está no play com o seu Esper Control, sabe que o seu oponente está de Monored)

A Mão 1 perde pra muita coisa do Field atual, mas principalmente, perde pra Thoughtseize.

Sim, você tem que levar esse tipo de especificidade em consideração, afinal, se você está com 4 Thoughtseizes no seu deck, sabe que o deck vem fazendo bons resultados, como que você não vai considerar esta carta vindo do lado adversário?

A Mão 2 é keepável contra decks Devotion e outros controles, mas como especificado, você está enfrentando um Monored, deck que, além de infernizar a vida do Esper, faz o estrago antes de você chegar na land do veredito, então te exige no mínimo 1 resposta entre o turno 2 e 3, a qual você terá dificuldades de achar com esta mão.

Ou seja, talvez não sejam os melhores exemplos do mundo, mas tem muitos fatores que influenciam no fator Mulligan, você deve estar ciente deles na hora de tomar sua decisão. Lembrando que o medo de ir a 5 cartas provavelmente está lhe fazendo perder boa parte de seus jogos, nos quais você keepa mãos ruins de seis e dá de ombros com cara de “fazer o que né”. :D

 - Embaralhamento!

Imagine um cenário onde você acabou de jogar o Game 2 de um Esper VS Esper, onde o jogo terminou pois acabou o tempo da rodada, você tem 16 lands em jogo.. seu oponente tem 15.. Os graves? Cheios de Spells. Você sai dessa rodada e já cai em outra, feliz pq fechou 1-0 no mirror, se sentindo invencível e pronto pra passar o carro em todo mundo.

Você tira o side do round anterior, embaralha o deck ali no mais ou menos, faz uns 7 riffle shuffle e dá o deck pro seu oponente da 2ª rodada cortar. Mão inical? 7 terrenos.

 “Nossa como a vida é injusta! Cai nos 2% de novo!”

Não, por favor... Esses 2% que eu tinha citado são pensando em um cenário onde você embaralhou o seu deck devidamente, randomizou as cartas como elas devem ser randomizadas. Essas 7 lands que você pegou ai você mereceu, você não embaralhou devidamente.

 “Então beleza.. se eu pegar mirror de control eu tenho que embaralhar mais, é isso?!

Não, também não. Você tem que criar um padrão de embaralhamento onde você saiba que ocorre completa randomização do seu deck. Se você assistir o Coverage de algum Grand Prix de Magic, principalmente nas rodadas mais próximas do Top 8, você vai ver que a galera embaralha e embaralha muito o deck. Inicialmente até parece um exagero, mas se você for parar pra pensar, se fosse exagero e desgaste a toa, os Pros não fariam isso. Um campeonato como um GP já é cansativo demais por si só pra alguém fazer algo a mais do que o necessário, que despende bastante energia, diga-se de passagem.

Existe uma fórmula perfeita para o embaralhamento? Desconheço, mas acredito com convicção de que qualquer coisa menos do que uns 10 Shuffles + 7 Riffle Shuffles + 1 Pile Shuffle + 7 Riffle Shuffles está errada. (Lembrando que em torneios de nível competitivo o oponente tem a obrigação de embaralhar o seu deck quando você concluir, ai se vão mais umas 5 embaralhadas no mínimo.)

Um bom tempo embaralhando é um mal necessário no Magic, não fique com preguiça!

Enfim, essas são algumas questões que são ignoradas após uma derrota, coisas que eu as vezes erro e você que está lendo provavelmente também.

E tem outra coisa, não ignore os erros quando você ganha, faça questão de discuti-los e comentá-los com os seus amigos. Eu no último PTQ que joguei bati com um dragão 4/4 fly, haste.. O oponente com uma Nessian Asp de pé. Ele não bloqueou, eu ganhei o jogo, sai feliz.. Podia não ter contado pra ninguém o ocorrido, mas às vezes acontece de você esquecer algo como Reach, deixar por isso, repetir o erro em alguma outra situação.. ou pior, não contar o ocorrido e depois ver um amigo dando a mesma vacilada.

Discuta sobre os seus erros, ao invés de ficar chorando por sorte/azar. O ambiente em Florianópolis anda bastante carregado de Mimimi, infelizmente. Estamos com uma leva de jogadores que quando fazem resultados positivos, como um 3-1 num FNM, por exemplo, quando perguntados sobre os jogos te dizem coisas como “Ah ganhei os 3 rounds pq eu joguei bem e perdi pq não veio terreno”, ou pior, “perdi pq o meu oponente tava iluminado”. Esse tipo de atitude parece ter influenciado players que antes não eram adeptos do Mimimi, mas que agora enfrentam um deck com 4of de Sphinx’s Revelation, por exemplo, e fazem comentários do tipo “tu achou uma Sphinx naquela divination? ta de brincadeira né.. o bicho é muito sortudo” pra pior.

Se você esta lendo isso e não é de Floripa, provável que você tem jogadores assim na sua região também, mas eu espero que ai eles não sejam a maioria como eles são aqui, uma vez que isso só torna o ambiente de jogo menos agradável do que deveria ser, somado ao fato de espantar novatos e outros jogadores que não tem toda essa competitividade baseada em choro. Chega ao cúmulo de um jogador dar o -2 do Jace, AOT.. encontrar algo bem normal, tipo 1 Jace, Memory Adept, 1 Sphinx e 1 Land.. e vc já ouvir do outro lado da mesa um audível “ta certo.... claro...” e todo o choro impregnado.. numa galerinha que não sabe admitir que perdeu de forma justa e merecida, não é capaz de admitir que errou em algum ponto.

Não sei se tais atitudes são motivadas por Ego ou por simples infantilidade, mas por um ambiente melhor e, por conseguinte, com jogadores melhores, gostaria muito de que o mimimi diminuísse, uma vez que o mesmo só atrapalha tanto quem quer melhorar, como quem está chorando indefinidamente.

Me envergonho do último campeonato que joguei e de minhas atitudes de mimizento. Voltei pro lado bom da força, o lado que dá bons resultados em longo prazo, o qual tenho certeza que é necessário para se melhorar no Magic. Faça o mesmo, vale a pena.

Ao invés de ser o cara que reclama que só pegou badmatch e por isso perdeu, por exemplo, seja o cara que leu artigos, conversou com amigos e descobriu como melhorar o match em questão. Seja o player que evolui com o tempo e que não fica estagnado num mesmo nível por anos e anos no magic.

Com certeza você será recompensado por isso.

-Bruno Müller

2 comentários:

  1. Ótimo artigo cara xD
    E falo isso sendo o tal jogador mimimi hahuuhaHUAhuaHUahuAHU.

    abraço velho :D

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  2. Mto bom o artigo!
    Ultimamente eu meio q ando sendo um jogador mimimi, kkkk. Ler o texto foi um ótimo tapa na cara pra ver se acorda xD

    Parabéns

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